(Foto: Reprodução) Nana Caymmi (29 de abril de 1941 – 1º de maio de 2025)
Lívio Campos / Divulgação
♫ CRÔNICA
♩ Pretendia ter encerrado ontem a série de quatro textos sobre a obra magnânima de Nana Caymmi (29 de abril de 1941 – 1º de maio de 2025), série iniciada na noite de anteontem, quando o Brasil recebeu a noticia da morte da artista de 84 anos completados há quatro dias. Mas, para citar verso do samba famoso que a cantora teve o privilégio de lançar em álbum de 1981, quem disse que eu te esqueço, Nana?
A toda hora, rola uma história na mente sobre ela. E, pelo que percebo em sucessivos relatos e depoimentos nas redes sociais, muita gente boa está na mesma situação de melancolia e saudade. Mas também de gratidão pela imensidão de tudo o que Nana fez pela música do Brasil e pela alma de cada ouvinte em particular.
É por isso que, quando sai de cena uma cantora da importância capital de Nana Caymmi, fica difícil virar de imediato a página do livro, para citar verso de outra canção que ela gravou – e gravou lindamente, se apropriando da música de Vinicius de Moraes (1913 – 1980).
Quem cresceu ao som das grandes vozes da MPB sente o baque da partida de uma intérprete da magnitude de Nana. Acontece agora em maio de 2025 o que aconteceu em janeiro de 1982 – quando Elis Regina partiu subitamente num rabo de foguete – e em novembro de 2022 quando Gal Costa foi morar no infinito das vozes imortais. A sensação que se segue nos dias seguintes é de um vazio, preenchido em parte (mas só em parte...) pela obra que fica para sempre.
Do fantástico quarteto de cantoras projetadas a partir de 1965, ano inaugural da MPB, somente Maria Bethânia continua em cena. E a solidão de Bethânia nesse palco outrora tão estrelado faz com que a partida de Nana aprofunde um sentimento já presente de que se aproxima cada vez mais o fim de uma era de ouro da música brasileira.
Mas a vida segue. E, aos poucos, tudo se afina novamente na orquestra do cotidiano, embora fique a ausência para sempre sentida e fique também a certeza de que o brilho de Nana Caymmi ninguém há de apagar, posto que eterno.